É provável que os frigoríficos não sejam afetados no volume de vendas; ainda assim, nos primeiros dias, pode haver alguns ajustes nas escalas de abate de determinadas plantas
Por Maurício Palma Nogueira, engenheiro agrônomo, diretor da Athenagro e coordenador do Rally da Pecuária
Desde o final da última quarta-feira, dia 20/11, o mercado tem acompanhado o desfecho dos acontecimentos catalisados pela fala do CEO global do Carrefour, Alexandre Bompard.
Na sexta-feira, 21/11, conforme sugestão divulgada no dia anterior, em carta capitaneada pela Abiec, ABPA, ABAG, CNA, SRB e Fiesp, os frigoríficos brasileiros iniciaram um boicote às lojas ligadas ao grupo Carrefour, cessando o fornecimento de carnes.
No sábado, 23/11, diversas outras entidades já assinavam a carta* apoiando a resposta ao Carrefour.
Depois de sugerida no primeiro comunicado, a viabilidade dessa operação foi questionada por especialistas em varejo. Horas depois, os frigoríficos brasileiros começaram a executar a operação que, até o momento, tem proporcionado resultados. Os três maiores – JBS, Minerva e Marfrig – aderiram prontamente ao boicote.
A partir de hoje, segunda-feira, 25/11, grande parte das lojas ligadas ao grupo deve abrir com carne insuficiente para atender os clientes. A falta de carne tende a afetar as vendas de outros itens, com a migração dos clientes para outras lojas.
É provável que os frigoríficos não sejam afetados no volume de vendas. Ainda assim, nos primeiros dias, pode haver alguns ajustes nas escalas de abate de determinadas plantas. Já vale prestar atenção a essa possibilidade, que pode incorrer em riscos e oportunidades.
Importante ressaltar que nós, na Athenagro, estamos alinhados com a iniciativa dos frigoríficos e das entidades do agronegócio que apoiam essa resposta.
Além do rigor da legislação brasileira e de todos os avanços que o agronegócio vem implementando ao longo das últimas décadas, o setor tem investido recursos e tempo para atender todas as demandas e compliance ambiental que têm sido apresentadas ao país.
No caso da pecuária, indústrias e produtores estão assumindo compromissos que deveriam ser do Estado, relacionados ao monitoramento sobre quem age ou não dentro da legalidade.
Os brasileiros estão levando o assunto a sério, somando esforços para sensibilizar a maior parte dos players, espalhados numa área imensa que ainda carece até de documentação. E estão avançando a passos largos.
Investidas falaciosas, como as do CEO do Carrefour, podem colocar em xeque todos os esforços envidados para atender essa demanda.
Entendemos, portanto, que a resposta do setor frigorífico brasileiro não atende apenas uma compensação comercial. É uma necessidade de mostrar aos produtores que a indústria, assim como a liderança do agro, está levando o assunto a sério.
* A seguir, na íntegra, a Carta Aberta de representantes da cadeia produtiva brasileira, se seus respectivos signatários até o dia 23/11/2024. A Frente Parlamentar da Agropecuária, assim como outras instituições, já se manifestou a favor da iniciativa.
Destaque para o trecho “Nos últimos 30 anos, a pecuária brasileira aumentou sua produtividade em 172%, enquanto reduziu a área de pastagem em 16%“, em que os autores citam análise da Athenagro divulgada no Beef Report, da Abiec em parceria com Apex Brasil.
Carta Aberta de Representantes da Cadeia Produtiva Brasileira em Resposta ao CEO do Carrefour sobre Carnes Produzidas no Mercosul
Nós, as entidades representativas da cadeia produtiva brasileira, manifestamos nosso profundo repúdio às declarações recentes sobre a suspensão da compra de carnes do Mercosul pelas lojas Carrefour na França.
Consideramos esta posição não apenas infundada, mas também desprovida de coerência com os princípios do livre mercado, da sustentabilidade e da cooperação internacional.
A decisão anunciada demonstra uma abordagem protecionista que contradiz o papel de uma empresa global com operações em mercados diversos e interdependentes. Tal posicionamento, além de desvalorizar a qualidade e a sustentabilidade das carnes produzidas nos países do Mercosul, prejudica o diálogo e a parceria necessária para enfrentar desafios globais como a segurança alimentar.
O Brasil, por sua vez, é referência mundial na produção e exportação de proteínas animais. Somos líderes globais na exportação de carne bovina e de frango, e nossa produção é amplamente reconhecida pela excelência, sendo abastecida por rigorosos controles sanitários e padrões de qualidade que atendem a mais de 160 países, incluindo mercados exigentes como União Europeia, Estados Unidos, Japão e China.
Nos últimos 30 anos, a pecuária brasileira aumentou sua produtividade em 172%, enquanto reduziu a área de pastagem em 16%. Esses avanços foram possíveis graças a um compromisso contínuo com a inovação, eficiência produtiva e práticas sustentáveis. Além disso, nossa legislação ambiental é uma das mais rigorosas do mundo, assegurando o equilíbrio entre produção agropecuária e preservação dos recursos naturais.
As áreas dedicadas à preservação da vegetação nativa pelo agro brasileiro somam 282,8 milhões de hectares, representando 33,2% do território do Brasil. Para se ter uma ideia, essa área equivale a um pouco mais de quatro vezes o território da França ou quase oito vezes o território da Alemanha. O Brasil preserva mais do que o dobro da área destinada à preservação ambiental em comparação com a França, um dado que questiona a postura crítica do Carrefour em relação à nossa produção.
A exclusão injustificada de produtos do Mercosul do mercado francês não apenas subestima a relevância de nossas exportações, mas também limita o acesso dos consumidores europeus a produtos de alta qualidade, mais seguros e sustentáveis. Além disso, tal atitude pode gerar inflação e aumentar as emissões de carbono devido ao transporte de mercadorias locais menos eficientes.
Se uma carne brasileira não serve para abastecer o Carrefour na França, é difícil entender como ela poderia ser considerada adequada para abastecer qualquer outro mercado. Afinal, se o Brasil, com suas práticas sustentáveis, sua legislação ambiental rigorosa e sua vasta área de preservação, não atenderia aos critérios do Carrefour para o mercado francês, então, provavelmente, não atenderia aos critérios de nenhum outro país.
Reafirmamos nosso compromisso com a produção responsável, sustentável e orientada para atender às necessidades dos mercados globais. Considerando que empresas globais como o Carrefour, que operam amplamente no Brasil e dependem de sua produção para abastecer mercados de todo o mundo, devem atuar com base em princípios de cooperação, transparência e respeito ao livre mercado.
Brasília, 23 de novembro de 2024
Atenciosamente,
1. ABIEC – Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne
2. ABIFUMO – Associação Brasileira da Indústria do Fumo
3. ABIMAQ – Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos
4. ABIOGÁS – Associação Brasileira do Biogás
5. ABIOVE – Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais
6. ABISOLO – Associação Brasileira das Indústrias de Tecnologia em Nutrição Vegetal
7. ABPA – Associação Brasileira de Proteína Animal
8. ABRAPA – Associação Brasileira dos Produtores de Algodão
9. ABRAFRIGO – Associação Brasileira de Frigoríficos
10. ABRAFRUTAS – Associação Brasileira dos Produtores Exportadores de Frutas e Derivados
11. ABRAMILHO – Associação Brasileira dos Produtores de Milho
12. ABRASEM – Associação Brasileira de Sementes e Mudas
13. ABRASS – – Associação Brasileira dos Produtores de Sementes de Soja
14. ABCS – Associação Brasileira dos Criadores de Suínos
15. ABCZ – Associação Brasileira dos Criadores de Zebu
16. ACRIMAT – Associação dos Criadores de Mato Grosso
17. ADIAL – Associação Pró-Desenvolvimento Industrial do Estado de Goiás
18. AMA BRASIL – Associação dos Misturadores de Adubos do Brasil
19. ANAPA – Associação Nacional dos Produtores de Alho
20. ANDAV – Associação Nacional dos Distribuidores de Insumos Agrícolas e Veterinários
21. APROSMAT – Associação dos Produtores de Sementes de Mato Grosso
22. APROSOJA/MS – Associação dos Produtores de Soja de Mato Grosso do Sul
23. APROSOJA/MT – Associação dos Produtores de Soja e Milho do Estado de Mato Grosso
24. AIPC – Associação das Indústrias Processadoras de Cacau
25. BIOSUL – Associação dos Produtores de Bioenergia de Mato Grosso do Sul
26. CECAFÉ – Conselho dos Exportadores de Café do Brasil
27. CNA – Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil
28. CITRUSBR – Associação Nacional dos Exportadores de Sucos Cítricos
29. CLB – CropLife Brasil
30. FAMASUL – Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul
31. FAEP – Federação da Agricultura do Estado do Paraná
32. FEPLANA – Federação dos Plantadores de Cana do Brasil
33. FIEMT – Federação das Indústrias do Estado de Mato Grosso
34. FIESP – Federação das Indústrias do Estado de São Paulo
35. OCB – Organização das Cooperativas Brasileiras
36. ORPLANA – Organização de Associações de Produtores de Cana do Brasil
37. SINDAG – Sindicato Nacional das Empresas de Aviação Agrícola
38. SINDAN – Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Saúde Animal
39. SINDIRAÇÕES – Sindicato Nacional da Indústria de Alimentação Animal
40. SINDIVEG – Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Vegetal
41. SRB – Sociedade Rural Brasileira
42. SUCOS BR – Associação dos Fabricantes de Sucos do Brasil
43. UNICA – União da Indústria de Cana-de-Açúcar
44. VIVA LÁCTEOS – Associação Brasileira de Laticínios